Se a ordem for abalada, então o caos se propagará e a injustiça frutificará.
A paz só será restaurada quando a justiça for feita.
O homem razoável é querido por Deus, pois tudo em sua vida possui ordem, imitando assim a ordem admirável com que Deus a tudo distribuiu.
O espanto surge, quando enganado pela desordem, por uma suposta injustiça da ordem. O conhecimento do homem razoável identifica logo: a desordem produz a injustiça.
O homem razoável entende que não existe ordem parcial. A ordem deve ser completa. Se não o for é desordem.
Os soldados de Hitler tinham ordem, mas uma falsa ordem. Da ordem não decorre a injustiça, logo a ordem de Hitler era uma desordem mascarada. O homem razoável diria que a ordem obedece primeiro ao fundamento de sua instituição: o dever ser para Deus.
Nestes tempos tantas coisas perenes foram falseadas, mas não deixarão de existir. Ocultaram-nas e colocaram outras, meio "aggiornata", nos seus lugares.
Ordem tem um sentido especial, ela indica a estabilidade das coisas criadas e também a beleza.
O quarto organizado pressupõe ordem material, mas uma mente desordenada logo o reduz a bagunça.
Se a justiça deve começar pela ordem, então a ordem deverá gerar uma atividade que poderá suprimir a vontade desordenada tendenciosa pela prática oposta, mesmo que fundada na força.
São os vícios a vontade desordenada; as virtudes a atividade ordenada. É a razão que domina o impulso.
Considerei oportuno reproduzir aqui um texto da Revista Catolicismo de 1954 sobre o grande São Pio x e sua canonização por Pio XII.
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A imprensa quotidiana dos grandes centros publicou tão largos excertos do discurso que o Santo Padre Pio XII pronunciou por ocasião da canonização de S. Pio X, no dia 29 de maio p.p., que nos parece supérfluo reproduzi-lo aqui. Entretanto, um estudo dessa importante alocução nos parece da maior atualidade.
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O Sumo Pontífice gloriosamente reinante teve a ventura de exercer altos cargos eclesiásticos sob as vistas do Papa que ele acaba de elevar à honra suprema dos altares. Esta circunstância foi até objeto desta curiosa constatação da parte de Sua Santidade: "Pela primeira vez quiçá na história da Igreja, a canonização formal de um Papa é proclamada por aquele que teve outrora o privilégio de estar a seu serviço na Cúria Romana".
Pio XII esteve pois em condições privilegiadas para conhecer a situação religiosa do mundo ao tempo de S. Pio X, situação esta marcada - como se disse nesta folha em número anterior - pelo fluxo e refluxo de duas correntes - de amor e de ódio - em relação ao grande Papa. De amor, pela sua piedade angélica, pela sua bondade celestial, por sua atividade incessante em prol das almas. De ódio por sua invencível firmeza contra os erros do tempo, o liberalismo, o laicismo, o cientificismo racionalista principalmente... e contra a quinta coluna modernista que, instalada nos próprios meios católicos, se servia do púlpito, do confessionário, da cátedra, da imprensa religiosa para disseminar veladamente a irreligião.
Pio XII registrou em seu discurso esta oposição do ódio e do amor em torno do Santo. De um lado, "o nome tão caro de Pio X" ainda hoje "suscita, em todos os lugares, pensamentos de celeste bondade, cria impulsos poderosos de fé, de pureza, de piedade eucarística, e ressoa como um testemunho eterno da presença fecunda de Cristo em sua Igreja". De outro lado, esse "campeão ilustre da Igreja" sofreu duros ataques, e na coragem em os suportar por amor à Igreja de Deus se revelou uma das facetas mais belas de sua admirável santidade: "Preocupado unicamente em guardar intacta a herança de Deus para o rebanho que lhe estava confiado, o grande Pontífice não mostrou fraqueza diante de quem quer que seja, e por maior que fosse sua dignidade, ou autoridade, nem hesitações diante das doutrinas sedutoras mas falsas - na Igreja e fora dela - nem qualquer temor de receber ofensas à sua pessoa e à pureza de suas intenções. Teve a consciência clara de lutar pela causa mais santa de Deus e das almas. Literalmente, ele realizou o mandamento das palavras do Senhor ao Apóstolo Pedro: Mas Eu roguei por ti para que tua fé não desfaleça, e tu, confirma-a a teus irmãos".
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Tomando posição terrivelmente enérgica contra os erros do Modernismo, e os fautores destes erros, S. Pio X pecou contra a caridade? Muitos o pretenderam. Esta foi mesmo uma das objeções mais essenciais contra a sua canonização. Como pode um Santo ser tão combativo, tão intransigente, tão severo? É a crônica intoxicação de falsa caridade, de que sofrem tantos pensadores e escritores católicos de nossos dias. Intoxicação esta de que por sua vez se contagiam milhares e milhões de leitores ou ouvintes.
S. Pio X amava a França com uma dileção particular. Mas amava-a com amor forte e sobrenatural. Por isto, não hesitou em vibrar alguns de seus golpes mais duros contra certa ala de católicos franceses que levava à garra a pátria de S. Luiz e Sta. Joana d'Arc. Veio daí a condenação de Marc Sangnier, e do "Sillon", movimento exaltadamente demo-cristão por este dirigido. E daí o serem particularmente freqüentes na França as objeções contra a canonização de S. Pio X. No próprio ano em que este foi beatificado, morreu Marc Sangnier. Certos círculos católicos daquele país - de modo geral os que ficaram implicados no caso dos Padres-operários - receberam com frieza quase acintosa a beatificação, e fizeram a Marc Sangnier funerais régios. Dir-se-ia que era o enterro de um Santo...
Esta posição contrária à verdade histórica, foi condenada pelo Santo Padre Pio XII em seu discurso: "Pio X revela-se também campeão convicto da Igreja e Santo providencial de nossos tempos na segunda empresa que distingue sua obra e se assemelha, através de episódios por vezes dramáticos, à luta empreendida por um gigante pela defesa de um tesouro inestimável: a unidade interna da Igreja em seu fundamento íntimo, a Fé. Já desde a infância, a Providencia divina havia preparado seu eleito em sua humilde família, edificada sobre a autoridade, os bons costumes e a própria fé escrupulosamente vivida. Sem dúvida, qualquer outro Pontífice, em virtude da graça de estado, teria combatido e rejeitado os assaltos destinados a atingir a Igreja em seus fundamentos. É preciso, contudo, reconhecer que a lucidez e a firmeza com que Pio X conduziu a luta vitoriosa contra os erros do Modernismo, atestam em que grau heróico a virtude da fé ardia em seu coração de Santo". E mais adiante: "É a ele, efetivamente, que cabe o mérito de ter preservado a verdade do erro, quer entre os que gozam de toda a sua luz, isto é, os crentes, quer entre os que a procuram sinceramente. Para os outros, sua firmeza no combate ao erro pode ter causado escândalo: na realidade, foi um serviço de uma extrema caridade, prestado por um Santo, como Chefe da Igreja, a toda a humanidade".
"Roma locuta, causa finita". Na canonização está empenhada a infalibilidade papal. Para os verdadeiros católicos, o assunto está encerrado.
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Para muitos espíritos timoratos, apontar a existência de erros entre os católicos é fazer obra de desunião. Condenando o Modernismo, Pio X desencadeou contra os fautores deste erro o zelo dos elementos mais vigilantes do mundo intelectual e dos homens de ação católicos.
S. Pio X - supérfluo é dize-lo - não patrocinou calúnias, nem exageros, nem injustiças. Mas exprimiu o reiterado e formal desejo de que os católicos lutassem energicamente contra o modernismo.
Fez ele com isto obra de divisão? Fomentou a desunião? Pelo contrário. É o que proclamou o Santo Padre Pio XII, ao afirmar que S. Pio X lutou como "um gigante pela defesa de um tesouro inestimável: a unidade interna da Igreja em seu fundamento íntimo, a Fé".
Aqui está apontada a chave da questão. A unidade da Igreja se baseia na unidade da Fé. Combater os erros entre católicos não é obra de divisão, mas de união, porque visa congregar a todos na mesma Fé.
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Um Papa tão resolutamente oposto aos erros de seu tempo não teria sido anacrônico? Não teria ele agido melhor condescendendo, calando, fechando os olhos? Pelo contrário, diz-nos Pio XII.
S. Pio X foi um Papa atualíssimo, pois previu a terrível crise de nossos dias, e o mundo a teria evitado, se tivesse ouvido seus ensinamentos. O capitão "atualizado" não é o que deixa o barco correr ao sabor das ondas, mas o que o dirige com mão firme para evitar os escolhos. Diz com efeito o Pontífice gloriosamente reinante: "Quando, com o Modernismo, se separa, opondo-as, a Fé e a ciência em sua fonte e seu objetivo, provoca-se entre esses dois campos vitais uma cisão quase tão funesta quanto a morte.
"Com o novo século, o homem dividido no íntimo de seu ser, e guardando entretanto a ilusão de conservar sua unidade numa aparência frágil de harmonia e de felicidade, fundamentada num progresso puramente humano, viu quebrar-se essa harmonia, sob o peso de uma realidade bem diferente. A atenção vigilante de Pio X viu aproximar-se essa catástrofe espiritual do mundo moderno, essa decepção especialmente amarga nos meios cultos. Compreendeu que essa fé aparente, isto é, uma fé que, em lugar de fundamentar-se em Deus Revelador, se radicava num terreno puramente humano, haveria de dissolver-se para muitos no ateísmo; Pio X percebeu igualmente o destino fatal de uma ciência que, indo de encontro à natureza e impondo-se uma limitação voluntária, impedia o caminho para a verdade e o bem absolutos, e não deixava assim ao homem sem Deus, posto diante da invencível obscuridade em que jazia para ele todo ser, senão a atitude da angústia ou da arrogância.
"O Santo opôs a semelhante mal o único meio de salvação possível e real: a verdade católica, bíblica, da fé aceita como uma homenagem racional ( Rom. 12, 1 ) prestada a Deus e à sua Revelação. Coordenando assim a fé e a ciência, a primeira como extensão sobrenatural e por vezes confirmação da segunda, e a segunda como caminho de acesso à primeira, devolveu ao cristão a unidade e a paz de espírito, condições imprescindíveis à vida.
"Se muitos hoje se voltam novamente para essa verdade, impelidos para ela, de certo modo, pela impressão de vazio e da angústia de seu abandono, e se têm assim a felicidade de poder encontrá-la firmemente possuída pela Igreja, devem agradecê-lo à ação clarividente de Pio X".
Num século de naturalismo, S. Pio X foi por todos os seus ensinamentos e por toda a sua vida um pregoeiro do sobrenatural. Di-lo mais do que tudo, a sua ardente piedade eucarística e tudo quanto fez pela intensificação dessa piedade entre os fiéis.
Assim oposto ao século, S. Pio X foi atual, e mais do que isto providencial. Exclama o Santo Padre Pio XII: "Graças à visão profunda que tinha da Igreja como sociedade, Pio X reconheceu na Eucaristia o poder de alimentar substancialmente sua vida íntima e de elevá-la bem alto acima de todas as outras associações humanas. Só a Eucaristia, na qual Deus Se dá ao homem, pode fundar uma vida de sociedade digna de seus membros, fundamentada no amor antes de o ser na autoridade, rica em obras e tendente ao aperfeiçoamento dos indivíduos: uma vida oculta em Deus com Cristo.
"Exemplo providencial para o mundo moderno, no qual a sociedade terrestre que se torna cada vez maisuma espécie de enigma para si mesma, procura ansiosamente uma solução para recompor para si uma alma! Que ele contemple, pois, como um modelo a Igreja reunida em torno de seus altares. Aí, no mistério eucarístico, o homem descobre e reconhece realmente seu passado, seu presente e seu futuro como uma unidade em Cristo. Consciente e firme dessa solidariedade com Cristo e com seus próprios irmãos, cada membro de uma e outra sociedade - a da terra e a do mundo sobrenatural - estará em condições de haurir no altar a vida interior de dignidade e de valor pessoal, que está atualmente a pique de ser submerso pelo caráter técnico e a organização excessiva de toda a existência, do trabalho e dos lazeres. Somente na Igreja, parece repetir o Santo Pontífice, e por meio dela na Eucaristia, que é uma vida oculta com Cristo em Deus, é que se encontram o segredo e a fonte de renovação da vida social".
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Aliás, retamente atual em tudo, S. Pio X soube atender às necessidades dos tempos no que têm de legitimo. Monumento disto é o Código de Direito Canônico, tão "antimoderno" em seu espírito e em suas disposições, tão útil, tão oportuno, tão atual em seus aspectos técnicos: S. Pio X "concebeu a árdua tarefa de renovar o corpo das leis eclesiásticas, visando dar ao organismo inteiro da Igreja um funcionamento mais regular, uma maior segurança e presteza de movimentos, como o necessitava o mundo exterior, impregnado de um dinamismo e de uma complexidade crescente. É bem verdade que essa empresa por ele definida como uma obra difícil, era digna de seu eminente senso prático e do vigor de seu caráter".
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Ouvir os ensinamentos de Pio XII que é Cristo e Pedro na terra, seguir os admiráveis exemplos do grande Santo que a Providencia lhe deu a dulcíssima consolação e a gloria refulgente de canonizar, é estar com Nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, diz o Santo Padre Pio XII, a propósito de S. Pio X: "qual é o caminho que nos leva a Jesus Cristo? - perguntou ele, pensando afetuosamente nas almas perdidos e hesitantes de seu tempo. A resposta, válida ontem como hoje e nos séculos vindouros, é: a Igreja! Essa foi, portanto, sua primeira preocupação perseguida incessantemente até sua morte: tornar a Igreja cada vez mais concretamente apta e aberta para encaminhar os homens a Jesus Cristo".
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Esta obediência à Igreja personificada no Papa - ubi Petrus ibi Ecclesia - é o que de todo o coração pedimos pela intercessão de S. Pio X e da Virgem Imaculada, neste ano que a piedade marial de Pio XII quis consagrar afetuosamente à Imaculada Conceição.
( 1 ) “Mais um florão de glória no pontificado de Pio XII”, CATOLICISMO, N.° 42, Junho de 1954.
A CNBB adotou medidas contrárias a Fé e a Lei da Igreja que nos asseguram o direito de determinadas formas de participação nas celebrações.
A desculpa ou culpa foi aplicada a H1N1. Por medidas de controle ou prevenção, os católicos ficam “proibidos” de receberem a Eucaristia na boca. Eu escrevi “proibidos” porque a orientação dada pela CNBB é acatada e sempre interpretada como uma palavra de ordem, maior até que a Tradição que pune com a excomunhão qualquer leigo que tocar na Eucaristia (pois esta é uma função exclusiva dos sacerdotes que são ordenados para este fim) imprudentemente ou sem razões que justifiquem, como os casos de profanações ou rituais que utilizam a Hóstia Consagrada. Nestes casos, perder a vida por ela [a Eucaristia] é uma grande honra e verdadeiro martírio.
O que acontece é que se não recebermos na boca, então não comungaremos!
As orientações devem conter-se no pedido ou ordem de ficarem em casa aqueles que tiverem sintomas da gripe. É melhor não comungarmos que recebermos Nosso Senhor imprudentemente e perdermos a Eternidade.
Mas a conversinha deu margem a novos argumentos como a do Arcebispo de Maceió D. Antônio Muniz Fernandes, segundo noticiado pela Agencia Ecclesia que “afirma que a omissão de alguns rituais não diminui a importância da celebração eucarística”.
Como a supressão de parte do Rito não afeta a Eucaristia? A qual parte se refere? O Canon do Rito não deve ter partes suprimidas, a não ser em casos específicos, os quais são substituídos por outros, como acontecem em alguns dias de festa ou guarda.
A invalidade do Rito é possibilitada por estas atitudes ainda não especificadas. Pelo menos uma parte boa surge para o rito novo: estão proibidas as orações em que se dão as mãos ou as partes em que se abraçam os fieis nas missas novas.
Mais uma vez a Santa Missa é o alvo destes bispos da CNBB. Lembro-me das missas televisionadas durante uma assembléia desta CNBB em que todos os bispos do Brasil se reuniam para a celebração da Missa no rito novo, onde as ofertas eram colocadas em cálices de barro. E assim foi, ferindo as determinações da Igreja que limita o uso de objetos em ouro ou prata, e ainda banhado a ouro, para o Santo Sacrifício. É Jesus Cristo, seu Corpo e Sangue, o Reis dos Reis, de dignidade infinita, e ainda O colocam num cálice de barro? Nenhum bispo levantou sua voz contra tamanha vergonha!
O nosso querido Arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, o valente e conservador bispo deste Recife, foi “aposentado” e em seu lugar recebemos um outro, um tanto disposto a destruir toda a obra que Dom José desempenhou para consertar as trágicas ações de Dom Elder, conhecido pelo seu socialismo transvertido de teologia.
As declarações deste novo Arcebispo são inteiramente escandalosas, e não quero comentar por sentir muita dor com estas declarações e com a escolha do Papa para nossa Arquidiocese.
É verdadeiramente uma pena as declarações abaixo virem de um príncipe da Igreja, de um Arcebispo!
Se São Bento observasse os dias atuais o que diria desse seu filho DOM FERNANDO SABURIDO? Triste um bispo querer construir uma “igreja nova”. Típico molde implantado pelo Concílio Vaticano II!
Entrevista concedida ao Diário de Pernambuco no dia 16/08/09. Os sublinhados são meus, o fiz naquilo que considero um absurdo diante da Fé Apostólica.
Como o senhor vê a expansão do segmento evangélico e qual o instrumento que será usado para resgatar o rebanho católico? Eu acho que, sem dúvida, missões populares vão ajudar a combater a evasão religiosa. Esse é um problema seriíssimo. Mas, eu sempre afirmo que as pessoas que abandonam a fé católica não eram cristãos descomprometidos. Uma pessoa que vive a sua fé com responsabilidade dificilmente abandona. Mas é um problema que está ai. O que me preocupa, principalmente, é os que se dizem atualmente sem fé, sem credo nenhum. Isso é uma realidade nova que está crescendo entre nós. O desafio é grande e deverá ser enfrentado com a colaboração de todos, de todo o povo de Deus. Só assim as coisas vão se transformando.
Há possibilidade de encaminhamento do processo de canonização de dom Helder? Existe a possibilidade, mas é uma coisa que tem que ser bem pensada, temos que ver um momento oportuno para iniciar algo tão grande assim.
Dentro desse trabalho missionário, as minorias vão ter vez? Como o senhor vê o homossexualismo e a adoção de crianças por casais homossexuais? A Igreja não discrimina ninguém. Todos são bem vindos. Homossexuais, prostitutas, qualquer pessoa que esteja numa situação social aparentemente difícil é aceita na Igreja. O que queremos é aquilo que está no evangelho. Jesus falou para a mulher adúltera: vá e não peque mais. Então, o que nós buscamos é a conversão, mas não há discriminação. Isso é até contraditório. Todos são acolhidos, mas esperamos que eles façam esse esforço para seguir aquilo que a Igreja orienta. Seriam bem vindos, mas seriam recomendados a não praticar. A Igreja defende a união do homem e da mulher. Isso serve para todas as tendências
Qual a avaliação que o senhor faz da gestão de dom José Cardoso? Dom José Cardoso ficou 24 anos na arquidiocese. Eu tenho por ele muita admiração, muito respeito. Eu não tenho dúvidas que dom José é uma pessoa bem intencionada. Ele sempre procurou fazer o bem, só que às vezes ele era mal interpretado. Dom José ama muito a Igreja e ama muito a eucaristia. Eu aprendi muito com dom José, mas seguirei meu próprio caminho.
Quais as principais diferenças entre o senhor e dom José? Cada cabeça é um mundo. Eu tenho minhas idéias para colocar em prática, mas não vou esquecer do trabalho dos meus antecessores. Por exemplo, o movimento Pró-Criança que dom José criou aqui é uma coisa muito boa e deve ser valorizada. É um trabalho belíssimo que tem resgatado muitas crianças das ruas e precisa ser estimulado.
Quais as suas prioridades? Ainda vou definir. Tudo será definido em assembléia. A Igreja trabalha de maneira muito democrática. Vou realizar uma assembleia arquidiocesana para definir isso. Quere convocar todo o povo de Deus para construir uma Igreja nova. Todos nós temos o mesmo objetivo, construir uma Igreja voltada para o povo, principalmente para as pessoas carentes.
O senhor pretende discutir o destino dos 24 padres que foram afastados de suas paróquias? A assembleia é para discutir assuntos pastorais. Esses problemas particulares a gente vai conversar, cada caso é um caso, vamos conversar pessoalmente, com o coração muito aberto e com muita caridade. Vamos tentar orientar cada situação da melhor maneira possível. À medida que eu for sendo procurado, a gente vai conversando e encaminhando cada caso com muito carinho.
O que o senhor diria para os fiéis, nesse primeiro momento? Eu diria convocar todo povo para a gente construir uma Igreja nova, a unidade é fundamental diante de tantas dificuldades, precisamos somar forças, todos nós temos o mesmo objetivo que é construir uma Igreja. Todos são importantes nesse processo. Precisamos dar passos significativos em relação à evangelização.
O senhor decidiu morar no seminário… Eu sou beneditino, eu fui formado no mosteiro aqui, então decidimos que eu viria para cá nesse primeiro momento, mas eu não vou ficar morando no mosteiro, não. Eu pretendo trazer a cúria, que fica na Várzea, para o Palácio dos Manguinhos, que fica mais central, e tentarei transformar o seminário da Várzea em um Centro de Pastoral. Mas tudo isso não está determinado, vamos conversar ainda. A gente precisa investir no seminarista. A missão de qualquer bispo é dar atenção especial ao seminário. E eu já vou morar no seminário. Vai ser uma coisa boa para conhecer melhor os seminaristas. Como está a realidade do seminário.
A sua gestão será mais conservadora ou a teologia da libertação ainda está muito viva? O evangelho é libertador, não se entende uma interpretação diferente do evangelho. O evangelho não é para oprimir ninguém. Vou trabalhar essa linha. Se o evangelho não nos proporcionar essa mudança, estamos perdidos. Queremos orientar a arquidiocese nessa direção (da libertação). Realizar trabalhos concretos, profundos de reflexão, e colocar a palavra de Deus em prática.
Qual a possibilidade de termos igrejas mais abertas durante o dia? Isso é importantíssimo. Não se entende igrejas fechadas. As pessoas precisam de espaços para sentar, refletir, conversar. Isso eu defendo há muito tempo: organizar a arquidiocese para ter sempre alguém nas igrejas para recepcionar os fiéis. Isso é só uma questão de organização. Existe o perigo e a insegurança, mas se a comunidade se organizar dá para contornar esses problemas.
O que o senhor acha da Renovação Carismática? A renovação é um movimento aprovado pela Igreja. É um seguimento. Existe um documento da CNBB que orienta, dá diretrizes a esse movimento, e a gente vai segui-lo. Só não podemos escandalizar. Às vezes a renovação carismática faz algo que as pessoas não entendem. Por exemplo, a oração em línguas, tem muita gente que critica isso. Mas, para as pessoas que participam do movimento é algo ótimo. A gente só vai tentar não lançar mão desses recursos sempre, para as pessoas que não concordam ou não entendem não se escandalizarem. Os carismáticos são muito importantes para Igreja. Veja a questão da evasão religiosa, eles têm ajudado muito com suas pregações.
Houve toda aquela polêmica com relação à menina que fez um aborto. Se o senhor tivesse na pele de dom José, naquela época, qual sua atitude diante do caso? A Igreja é muito clara com relação à questão do aborto. A Igreja defende a vida em qualquer circunstância. Todo mundo sabe disso. Isso é o que eu tentaria colocar em prática. O que tumultuou muito foi o fato de dom José ter citado o direito canônico que quem pratica um aborto conscientemente está fora da igreja. A imprensa pegou isso e só falava nessa história. Mas, na verdade, o que é importante é a defesa da vida. Eu tentaria evitar o aborto, com certeza, e motivar os pais para que tivesse mais um pouco de paciência, para tentar salvar a vida. Tudo isso precisaria ser visto, inclusive o risco de vida da criança, mas também há técnicos que acham que houve precipitação ao fazer o aborto. Ninguém excomunga ninguém. O que dom José citou foi um Canon que diz: quem faz isso fica automaticamente fora da comunhão da igreja.
Fonte na íntegra: http://www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/especiais/dom_fernando/nota.asp?materia=20090816134657&assunto=118&onde=VidaUrbana